terça-feira, 26 de março de 2024

MEU DISCURSO A FAVOR DA “RUA CELINA DOS SANTOS BRAGA”


Por FRANCISCO JOSÉ DOS SANTOS BRAGA
 
Celina dos Santos Braga (✰ São João del-Rei, 23/01/1928 - ✞ 29/05/2014)

 
Exmo. Sr. Sargento Machado, Presidente da Câmara Municipal de São João del-Rei, 
Exmo. Sr. Professor Leonardo, proponente do Projeto de Lei nº 7.984, em nome de quem saúdo todos os outros representantes eleitos do povo são-joanense, 
Saúdo igualmente todas e todos os convidados que comparecem a esta cerimônia de valorização de uma mulher (minha mãe) que dedicou o melhor do seu tempo a causas sociais sem qualquer remuneração e pela simples recompensa de ter agido conforme a sua consciência, 
 
Inicialmente, quero agradecer de coração à Câmara Municipal de SJDR, carinhosamente chamada pelos são-joanenses de "Casa do Povo" e, em particular, ao Presidente Sargento Machado por conceder cinco minutos para este membro da Academia de Letras de São João del-Rei falar de sua gratidão nesta oportunidade. Todos aqui têm em mãos um texto de Dª Celina dos Santos Braga, minha mãe, intitulado "Reminiscências do Dr. Tancredo de Almeida Neves em 1944", escrito para uma edição comemorativa da Academia em 2010, ano em que se celebrava o centenário do são-joanense e também ex-presidente desta Casa Legislativa, Dr. Tancredo de Almeida Neves. (Obrigado, Dr. Tancredo! Receba todo o respeito e gratidão da nossa Academia de Letras!) Em especial, quero agradecer ao Vereador Professor Leonardo por ter indicado, no seu Projeto de Lei 7.984, o nome de minha mãe para denominação de via pública no Condomínio Novo Horizonte e que está sendo examinado nesta pauta da reunião ordinária deste dia de 26 de março de 2024. 
 
A iniciativa dessa homenagem cívica partiu de Átila Franco, vizinho de minha mãe e filho do taxista e político conhecido carinhosamente por "Patativa", o qual solicitou que a denominação da rua reverenciasse a memória de Dª Celina dos Santos Braga, alegando que podia atestar a veracidade do extremo cuidado e consideração dela para com as crianças da vizinhança, como foi o seu caso. Junto ao Professor Leonardo mencionou que, quando criança, muitas vezes pedia "mandados" à minha mãe para obter "pratinhas" e, assim, satisfazer seus desejos infantis por guloseimas e brinquedos. Mais meritória ainda foi a iniciativa de Átila, tendo em vista que partiu de um vizinho querido, e não de alguém da família, o qual, antes de tudo e por primeiro, enalteceu publicamente com louvor as qualidades de minha mãe, catequista na Rua do Ouro, razão pela qual eu e meus irmãos queremos abraçá-lo pelas referências elogiosas feitas juntamente com o pedido da homenagem à memória dela, que o Professor Leonardo guardou em seu coração e prontamente atendeu, e só depois este me comunicou ter feito esta indicação do nome dela para aquela rua, a pedido de seu amigo Átila. 
 
Prezado Professor Leonardo: considero valioso mimo a sua iniciativa de homenagear nossa mãe com a denominação de uma via pública são-joanense e a maior prova de amizade que V. Exª poderia presentear nossa família, aqui representada por mim, dois irmãos e uma irmã, além de Dinéa, nossa tia e irmã muito querida de nossa mãe, e sua leal secretária, Fota, todos aqui presentes. Os outros quatro irmãos justificaram sua ausência por compromissos assumidos anteriormente em função de suas atividades profissionais. 
 
Nossa mãe repetia a seus filhos que tinha um sonho: o de ter um dos seus filhos pianista e outro, padre. Pois bem, atendendo seu pedido, dois filhos se encaminharam para o piano (eu próprio e minha irmã, Luzia Rachel, que é formada pelo Conservatório são-joanense e que se deslocou de Florianópolis para prestigiar esta cerimônia), além de outro filho (Luís, ter optado pelo violino, tocando-o com tal esmero que veio a pertencer à Orquestra Ribeiro Bastos, sob a competente regência de José Maria Neves). Quanto ao filho padre, lamento dizer que minha mãe se frustrou, porque nenhum dos cinco filhos sentiram o chamado da vocação para o ministério sacerdotal. Em compensação, uma filha (Celina Maria Braga Campos), hoje viúva, seguiu os passos de nossa mãe, tendo também se encaminhado para o ministério de catequista  sim, ministério de catequista , que o papa Francisco chama de "antiquum ministerium", o mais antigo ministério desde os primórdios da Igreja. O Bispo de Roma fez questão de instituí-lo oficialmente em 10 de maio de 2021, para preencher uma lacuna e diante da necessidade urgente de evangelização no mundo contemporâneo. Para isso, assinou naquela data uma carta apostólica sob forma de "motu proprio", estabelecendo, desta forma, o ministério de catequista. 
 
Nossa mãe cumpriu a missão de catequista da Paróquia Nossa Senhora do Pilar sob a competente direção do Monsenhor Sebastião Raimundo de Paiva durante 30 anos, atuando especialmente em comunidades com vulnerabilidade social, tais como o Alto das Mercês e a Rua do Ouro e, neste caso, como diretora de catequese, segundo Dª Conceição Ferreira, coordenadora da catequese paroquial. Onde tardava ou faltava o serviço público, nossa mãe assumia o encargo de prestar assistência às pessoas carentes com seus próprios recursos. Mesmo diante dos problemas físicos de locomoção, perseverou na missão de catequista, e, com autorização de Monsenhor Paiva, precisou utilizar um carro da Paróquia e motorista para sua condução até os seus alunos. Enquanto pôde, ensinava catecismo até mesmo dentro de sua própria residência. Muito do que fez em prol dos necessitados, além da catequese, só ficamos sabendo aos poucos, depois de sua morte. O testemunho de algumas moças foi de que ela as incentivava a ingressar no coro da Orquestra Ribeiro Bastos — conselho que seguiram , de outros foi de que se tornaram ávidos leitores de livros por sua influência e através da doação do acervo dela para formação de seu caráter.
 
Nossa irmã Elizabeth relembra, num texto denominado "Homenagem à minha mãe", que 
Há ainda uma coisa importantíssima: o amor. Mamãe tinha um coração de ouro. Era caridosa e acolhedora. Nossa casa foi sempre referência na Rua das Flores, referência de solidariedade aos necessitados. Amava as pessoas e amava a Deus, lembrando sempre que Ele estava em primeiro lugar.
 
Vou evocar alguns dados biográficos de nossa mãe. Nascida em 23 de janeiro de 1928 em São João del-Rei, era filha do acordeonista e eletricista, funcionário da Distribuidora são-joanense, Francisco Nestor dos Santos (nome de praça no Pau d'Angá) e Brasilina Sebastiana dos Santos, cozinheira do Colégio Nossa Senhora das Dores antes do casamento. Em 1944, Celina formou-se normalista no Colégio Nossa Senhora das Dores e, nos anos de 1945 e 1946, trabalhou como professora rural numa edificação da Estação ferroviária de César de Pina, próxima ao balneário das Águas Santas, proporcionando às crianças daquela comunidade rural o letramento e o acesso aos rudimentos das ciências, letras e artes. Em 15 de fevereiro de 1947, nossa mãe Celina casou-se com Roque da Fonseca Braga (1918-1984), com quem viveu durante 37 anos. Esposa e mãe exemplar, abandonou o emprego para dedicar-se ao cuidado do lar, ao marido e à educação de sua prole (constituída de 8 filhos), o que fez com muito carinho, sensibilidade e conhecimento de causa como educadora. Educou-nos com muita dedicação, tendo todos nós, seus filhos, conquistado pelo menos o grau de bacharel nas mais diversas áreas do conhecimento. Quando ainda éramos crianças, ajudava-nos nos deveres de casa e tarefas escolares, supervisionava nossos boletins escolares e estimulava a leitura, presenteando-nos com livros. Vestia-nos com roupas asseadas e engomadas e incentivava-nos a participar de atividades extra-classe, ocasião em que nos apresentávamos trajando fantasias para teatrinhos infantis e compondo, como pajens e damas de honra, o séquito de autoridades civis e eclesiásticas. 
 
Com seus oito filhos já crescidos, nossa mãe passou a frequentar novamente as carteiras da escola, matriculando-se como aluna no Conservatório de Música Pe. José Maria Xavier, dando continuidade à época de sua juventude em que integrou o coro orfeônico do Maestro Ten. João Cavalcante, professor do Colégio Nossa Senhora das Dores, em cujo coro participara como soprano. Na época em que o Diretor do Conservatório era o Prof. Abgar Campos Tirado (de 1971 a 1976), retomou os estudos de música e teve início sua participação no Coral Opus 78, sob a direção do Prof. André Luís Dias Pires, e do Coral de Ex-alunas do Colégio Nossa Senhora das Dores. Também, retomou as lições de piano com o saudoso Prof. Euclides José Correia (canto e piano). Nos últimos anos foi aluna particular da professora são-joanense Maria Amélia Viegas. 
 
Conforme se lê no projeto de lei do Vereador Professor Leonardo: 
“A Câmara Municipal de São João del-Rei aprova (e eu, Prefeito Municipal, sanciono a seguinte Lei): 
Art. 1º - Passa a denominar-se "Rua Celina dos Santos Braga", a rua conhecida como Órion, no loteamento Novo Horizonte, município de São João del-Rei, conforme croqui em anexo. 
Art. 2º - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. 
Sala das Reuniões, 05 de janeiro de 2024.”
 
Croqui do loteamento Novo Horizonte - Crédito pela foto: Professor Leonardo

 
Devo aqui mencionar um fato digno de consideração por parte dos legisladores. É muito difícil elucidar certas coincidências que acontecem na vida da gente, mas é possível constatá-las e reconhecer o mistério da sua ocorrência. 
 
Antes e durante a referida enfermidade, mamãe possuía um cão chamado Órion, que, como um anjo, alegrava sua vida decadente com o seu latido e sua alegria, tornando as suas agruras menos dolorosas. Pois bem: após a morte dela em 29 de maio de 2014, esse cão nunca mais latiu, num luto solitário percebido por todos. 
 
Observem agora a feliz coincidência e o mistério inerente a essa denominação da "Rua Celina dos Santos Braga". No croqui, o loteamento homenageava constelações e Órion foi a denominação provisória desta via pública. Ora, Órion deve ser uma das constelações mais populares no mundo todo. Sua posição privilegiada em relação à Linha do Equador permite que seja vista tanto no Hemisfério Norte quanto no Hemisfério Sul da Terra. Além disso, Órion era o nome do cão que alegrava a vida de mamãe antes e durante o último quadrante de sua vida. Relembro essas coisas, reafirmando a existência de estranhas coincidências nessa homenagem prestada pela Casa do Povo. Certamente, a alma dela deve estar muito comovida nos páramos celestiais, por ter seu nome substituindo seu amado cão em vida, juntando ambos na pós-morte. 
 
Nossa mãe, durante a sua enfermidade que infelizmente veio a vitimá-la em 2014, era assistida por todos os oito filhos; pôde contar especialmente com a companhia constante de meu irmão Rafael e sua esposa Lourdes, que moravam na cidade, secundados por Carlos Fernando e sua esposa Maria do Carmo e por mim e minha esposa Rute, que tivemos a coragem de mudar-nos para São João del-Rei, vindos respectivamente de Belo Horizonte e Brasília, ficando assim mais próximos neste momento delicado de sua vida,  dando-lhe conforto e confiança até seu último dia.
 
Para finalizar, revisito o texto "Homenagem à minha mãe" de nossa irmã Elizabeth, em que fala também do amor de nossa mãe à música: 
Gostava de música e ensinou a todos nós o amor por essa arte maravilhosa. Incentivou-nos no aprendizado de instrumentos, inclusive com seu exemplo, iniciando as aulas de piano já adulta e com oito filhos. Gostava de cantar, desde os tempos do canto orfeônico do Colégio Nossa Senhora das Dores, e foi sua voz afinada que moldou nossos bons ouvidos. O conservatório, o coral, a música clássica, o barroco mineiro... nossa Mãe amava a música e até seus últimos dias pediu aos filhos que tocassem para ela o velho piano.
 
À nossa mãe está reservada a coroa dos justos e simples de coração, tementes a Deus. Com São Paulo, na 2ª carta a Timóteo capítulo 4 e versículos 7-8, nossa mãe certamente está dizendo nas regiões celestiais: 
"Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me entregará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amam a sua vinda." 
 
Muito obrigado pelo carinho de todos.
 
 
Orador: Francisco Braga - Crédito pela foto: Professor Leonardo


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Rute Pardini e Francisco Braga

 
Composição da Mesa: Sargento Machado (no centro) e Professor Leonardo (à direita) - Crédito pela foto: Professor Leonardo

Auditório lotado com familiares e convidados - Crédito pela foto: Professor Leonardo




REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
 
 
BRAGA, Celina dos Santos: Reminiscências de Dr. Tancredo de Almeida Neves em 1944, publicado na Revista da Academia de Letras de São João del-Rei, Ano IV, nº 04, 2010 (número especial dedicado às comemorações de centenário de nascimento do Dr. Tancredo de Almeida Neves), pp. 143-144; também transcrito no Blog de São João del-Rei, publicado em 28/12/2010

BRAGA, Elizabeth dos Santos: Homenagem à minha mãe Celina dos Santos Braga (1928-2014), publicado no Blog de São João del-Rei em 08/07/2014

BRAGA, Francisco José dos Santos Braga: Colaboradora: Celina dos Santos Braga, publicado no Blog de São João del-Rei, 28/12/2010.